CACHAÇA CINEMA CLUBE
19 de maio de 2010
Sessão a favor da Luta Antimanicomial
A loucura, em verdade, não existe. É uma construção social que vem se transformando através dos séculos, reveladora dos instrumentos disciplinares e controladores disponíveis. Forjando limites para sua "existência" e "ausência", a razão então afirma-se como instituição de poder.
O que existe, sim, é o sofrimento mental. E este, mesmo no ano de 2010, século XXI, ainda é cercado de tabus e preconceitos. Na sociedade capitalista e excludente em que vivemos, o indivíduo que foge ao padrão produtivo imposto explicita e denuncia as contradições existentes. E aí segrega-se o doente mental, excluído sob a categoria de "louco".
Para romper esses preconceitos, em defesa da inclusão social, em respeito às diferenças e humanização do tratamento mental, surge, em 1987, um movimento por uma Reforma Psiquiátrica no Brasil. E dia 18 de maio é o marco do movimento, o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.
Em homenagem a esta data e a esta luta, o Cachaça Cinema Clube repete a experiência de 2006 e realiza, no dia 19 de maio, uma sessão inteiramente dedicada à discussão sobre saúde mental.
Material Bruto, de Ricardo Alves Jr. é um manifesto pela poética e expressão própria da loucura, realizado com pacientes da rede pública de saúde mental de Belo Horizonte. Filmado dentro de um manicômio judiciário na Bahia, o documentário A casa dos mortos, da antropóloga Débora Diniz, choca e emociona ao acompanhar a trajetória de três pacientes-detentos, narrada por um poema de autoria de um deles. Um filme para fortes.
Para completar, exibiremos filmes realizados pela TV Pinel, TV comunitária produzida por usuários, funcionários e técnicos do Instituto Philippe Pinel, desde1996. Com bom humor e senso crítico, os pacientes constroem um discurso televisivo sobre a sua própria condição, estabelecendo novas esferas de expressão e participação social, discutindo a publicização da loucura e de seu tratamento. E entretendo bastante também.
Destaques
Príncipe do fogo, filme de Silvio Da-Rin de 1984, resgata a história dos manicômios judiciários, ao registrar os últimos dias de vida de Febrônio Índio do Brasil, o primeiro brasileiro a ser recolhido nesse tipo de instituição. Febrônio, nos anos 20 e 30, ganhou "fama" por cometer crimes hediondos, e passou 58 anos de sua vida internado em um hospício.
E, já que algumas das mais profundas considerações feitas sobre o tema nos são bastante próximas, exibiremos também clipes surpresas de belíssimas canções populares sobre a loucura.
Os filmes

Material bruto, de Ricardo Alves Jr., 2007, 16'
Afora nos corredores do edifício caminha a Mulher Náusea. Adentro Mulher Cabelo , Homem Cigarro e Homem Música esperam o momento de fuga, um instante para sair de si. Material Bruto é um trabalho realizado com usuários do centro de convivência da rede pública de saúde mental na cidade de Belo Horizonte.

A casa dos mortos, de Débora Diniz, 2009, 24'
Bubu é um poeta com doze internações em manicômios judiciários. Ele desafia o sentido dos hospitais-presídios, instituições híbridas que sentenciam a loucura à prisão perpétua. O poema A Casa dos Mortos foi escrito durante as filmagens do documentário e desvelou as mortes esquecidas dos manicômios judiciários. São três histórias em três atos de morte. Jaime, Antônio e Almerindo são homens anônimos, considerados perigosos para a vida social, cujo castigo será a tragédia do suicídio, o ciclo interminável de internações, ou a sobrevivência em prisão perpétua nas casas dos mortos. Bubu é o narrador de sua própria vida, mas também de seu destino de morte.

Príncipe do fogo, de Silvio Da-Rin, 1984, 11'
Febrônio Indio do Brasil, "inimigo público número um" para a crônica policial dos anos 1920, foi o primeiro brasileiro a ser recolhido a um manicômio judiciário, onde permaneceu preso 58 anos. O filme registra seus últimos dias de vida e recupera a lenda de um dos personagens que mais marcou as relações entre Psiquiatria e Direito no Brasil.
+ obras da TV Pinel
+ clipes surpresa
A festa

Serviço
Cachaça Cinema Clube
Dia 19 de maio de 2010
Cinema Odeon BR, 21h. Praça Floriano, nº 7. Cinelândia
Preço: 12 Reais inteira / 6 Reais meia

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